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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

As traduções portuguesas de «Os Grandes Livros», de Anthony O'Hear



Homero, Ilíada
Tradução de Frederico Lourenço, Lisboa, Livros Cotovia, 2005

Homero, Odisseia
Tradução de Frederico Lourenço, Lisboa, Livros Cotovia, 2003

Ésquilo, Oresteia
Tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Lisboa, INCM, 1985

Sófocles, Antígona
Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira, Coimbra, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1984.

Eurípides, As Bacantes
Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa, Edições 70, 1998

Platão, Apologia de Sócrates, Êutifron, Críton e Fédon
Fédon — Tradução de Maria Teresa Schiappa de Azevedo, Coimbra, Livraria Minerva, 1988

Virgílio, Eneida
Agostinho da Silva, Lisboa, Temas e Debates, 2008

Ovídio, Metamorfoses
Tradução de Paulo Farmhouse Alberto, Lisboa, Livros Cotovia, 2007

Santo Agostinho, Confissões
Tradução de Maria Luiza Jardim Amarante, São Paulo, Paulus, 1984

Dante, A Divina Comédia
Tradução de Vasco Graça Moura, Lisboa, Bertrand Editora, 2002

Chaucer, Contos da Cantuária
Tradução de Olívio Caeiro [excertos], Porto, Brasília Editora, 1980

Shakespeare, Henrique V
Tradução de Henrique Braga, Porto, Lello e Irmão Editores, 1988

Shakespeare, Hamlet

Shakespeare, A Tempestade
Tradução de João Grave, Porto, Lello e Irmão Editores, s.d.

Cervantes, Dom Quixote
Tradução de Miguel Serras Pereira, Lisboa, Dom Quixote, 2005

Milton, Paraíso Perdido
Tradução de Fernando da Costa Soares e Raul Domingos Mateus da Silva, Lisboa, Chaves Ferreira, 2002

Pascal, Pensamentos

Racine, Fedra
Tradução de Vasco Graça Moura, Lisboa, Bertrand Editora, 2005

Goethe, Fausto
Tradução de Agostinho d’Ornellas, Lisboa, Relógio d’Água Editores, 1987

«O Que a Civilização Ocidental deve à Igreja Católica», de Thomas E. Woods, Jr.


Nas livrarias a 25 de Setembro


A civilização ocidental baseia-se nos milagres da ciência moderna, na riqueza do mercado livre, na segurança do primado da lei, no respeito pelos direitos humanos e pela liberdade, nas virtudes da caridade ou da segurança social, nas belas-artes e na música, numa filosofia assente no racionalismo, e numa série de outros factos que temos como adquiridos – e que fazem de nós a mais poderosa e mais extraordinária civilização de todos os tempos.

Mas qual é, ao fim e ao cabo, a fonte de todos estes prodígios? O aclamado autor e professor Thomas E. Woods Jr. dá-nos aqui a resposta, há muito tempo negligenciada: foi a Igreja Católica que construiu a civilização ocidental.

  • Foi a Igreja Católica quem arrancou a Europa da Idade das Trevas
  • A ciência moderna nasceu de facto com a Igreja Católica.
  • Os padres católicos desenvolveram a ideia do mercado livre cinco séculos antes de Adam Smith. Foi a Igreja Católica quem criou as universidades e os hospitais.
  • Tudo o que se diz sobre o caso de Galileu é falso.
  • O direito ocidental nasceu do código canónico, e não só do romano.
  • A Igreja humanizou o Ocidente, insistindo na santidade de todas as vidas.

Ninguém fez mais para modelar a civilização ocidental do que a Igreja Católica, nos seus dois mil anos de existência – e em tantos aspectos, que quase nos esquecemos deles. Este livro é fundamental para nos reconciliarmos com essa verdade, que muitos tentam hoje camuflar.


Tradução: Maria José Figueiredo
1ª edição, Setembro de 2009
ISBN: 978-989-622-192-8
Formato: 130*220 mm
Nº de páginas: 276
Preço: 18,00 €

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

«Os Grandes Livros», de Anthony O'Hear



Nas livrarias a 18 de Setembro


A Odisseia, a Divina Comédia, os Lusíadas – a grande literatura pode ser lida por todos nós, com uma pequena ajuda.

Numa viagem fascinante ao longo de 2500 anos, Anthony O’Hear mostra-nos o caminho, na companhia de livros tão poderosos, emocionantes e cheios de erotismo como qualquer best-seller moderno.

Começamos por Homero, o pai da literatura ocidental. Depois, a tragédia grega, Platão, a Eneida de Virgílio e as Metamorfoses de Ovídio, fonte inesgotável de inspiração para a litera­tura e as artes plásticas europeias.

Através de Santo Agostinho passamos à Divina Comédia de Dante, um desvio ao mesmo tempo tene­broso e sublime pelo Inferno e pelo Purgatório, terminando na sua arrebatada visão do Paraíso. Chaucer, Camões, Shakespeare, Cervantes, Milton, Pascal, Racine e Goethe comple­tam a tábua das personagens desta história fabulosa. Em qualquer dos casos, O’Hear traça um esboço paciente dos seus temas, aborda passagens cruciais e explica a importância imorre­doura destas obras.

Mais do que uma grande obra de referência, esta é também uma história narrativa contada com um profundo amor pela literatura – e uma crença inabalável na sua capacidade de inspirar e enriquecer os nossos mundos.


Anthony O’Hear é professor de Filosofia da Universidade de Buckingham, director do Royal Ins­titute of Philosophy e editor da revista Philosophy. O presente livro é fruto de um curso dado na Universidade Católica em 2004/05, e patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian.


«E nem nos apercebemos bem de que, embora os clássicos gregos e romanos estejam real­mente distantes de nós, temos armazenados, na mente e no coração, temas e atitudes que nos vêm deles. De tal maneira que uma viagem pelos clássicos é uma viagem de descoberta, é certo, mas é também uma viagem de autodescoberta.» – Anthony O’Hear, na Introdução


Os Grandes LivrosDa Ilíada e da Odisseia, do Fausto de Goethe aos Lusíadas, uma viagem pelos 2500 anos da literatura clássica

Tradução: Maria José Figueiredo
1ª edição, Setembro de 2009
ISBN: 978-989-622-173-7
Formato: 160*240 mm
Nº de páginas: 520
Preço: 19,00 €

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O mundo para os jovens e Portugal para os graúdos

A Alêtheia Editores lançou recentemente no mercado nacional Breve História do Mundo Contada aos Jovens Leitores, um clássico de Manfred Mai, e Portugal – Ensaios de História e de Política, de Vasco Pulido Valente. Duas obras para entender um pouco do Mundo e muito do nosso país.

Pedro Justino Alves, Diário Digital, 16 de Setembro de 2009


Manfred Mai destaca logo no prefácio que o livro não pretende explicar o Mundo, pelo contrário, o objectivo é «fornecer uma primeira visão de conjunto da história mundial». O autor, professor do ensino secundário, ressalta ainda que sentiu necessidade de escrever esta obra «porque sei que só possuindo um vasto quadro geral se pode compreender verdadeiramente a história em todas as suas facetas e nos seus detalhes. Talvez um dos problemas do ensino da história nas nossas escolas seja precisamente este: é que só se chaga a ter um quadro geral no fim do longo currículo escolar».

Por isso, em Breve História do Mundo Contada aos Jovens Leitores, temos uma abordagem bastante completa dos principais acontecimentos da história ocidental, desde «Os primeiros seres humanos» (primeiro capítulo) até «Um só mundo» (52.º). A escrita de Mai é bastante directa e esta é uma das principais qualidades deste livro, além de abordar os acontecimentos de forma simples e sem complicações, sendo por isso um óptimo complemento aos estudos.

Os textos são curtos e acabam por não cansar o leitor, pelo contrário, o mesmo acaba por passar de capítulo para capítulo sem custos, com prazer. Mesmo os acontecimentos mais dramáticos da história mundial (as cruzadas, as grandes guerras, o colonialismo….) são abordados de forma educativa (é notório verificar a formação profissional de Manfred Mai em cada página). Breve História do Mundo Contada aos Mais Jovens Leitores é portanto uma obra exemplar que tem o dom de abrir a curiosidade aos mais jovens, que, após a sua leitura, vão procurar descobrir mais em pormenor os caminhos da História mundial


Se o livro de Manfred Mai procura explicar um pouco do Mundo, a obra de Vasco Pulido Valente tem o dom de explicar em pormenor muito da história nacional. No total, 331 páginas, 10 ensaios entre as invasões francesas até aos nossos dias (liberalismo, a conspiração monárquica, os anos de Salazar, o 25 de Abril, o exílio e a queda de Marcello Caetano…), um livro que reúne «as coisas que eu acho que escrevi de relevante sobre Portugal», referiu o autor. Como é habitual na escrita de Pulido Valente, há rigor mas também alguma polémica nestes ensaios, como referir que «o dr. Cunhal é parecido como uma gota de água com o dr. Salazar: é o dr. Salazar virado do avesso».

Portugal – Ensaios de História e de Política agrega artigos que foram publicados nos mais diversos meios, como nos jornais Diário de Notícias, O Independente e Público ou na saudosa revista K. Apesar de podermos não concordar com muitas das conclusões de Pulido Valente, não podemos negar o seu discurso, sempre rico em pormenores e acima de tudo sustentáveis. Após lermos este livro temos uma ideia muito clara sobre o nosso país, compreendemos que a queda da monarquia (com a ajuda da classe aristocrática) ou o surgimento de Salazar (devido a uma república doente) acabaram por ser dois factos naturais na nossa história. Esta colectânea de artigos é um verdadeiro regalo para todos, uma obra de referência para quem pretende compreender parte da história do nosso país

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O estranho caso de um católico inglês

Nem todos os católicos são enfadonhos: a prova disso é G. K. Chesterton. Imaginava ter este autor caído no esquecimento, mas, pelos vistos, enganava-me. Ele aí está de novo, remoçado e em óptima tradução da sua biografia intelectual, Ortodoxia [Alêtheia Editores, 2008, tradução de Maria José Figueiredo]. Quando a encontrei não resisti a ver como, passados cinquenta anos, reagiria ao seu contacto. Hoje, como ontem, rendi-me à sua prosa.

Maria Filomena Mónica, Público, 15 de Setembro de 2009





Excepto nos países totalitários, a dissidência é um prazer. Segundo a mais simples fórmula matemática, a dupla dissidência dá o dobro do gozo. Ora, no Reino Unido, a opção pelo catolicismo representa um gesto de rebeldia não só em relação à Igreja como ao Estado. Depois de, no século XVI, Isabel I ter declarado serem os católicos um bando de heréticos, o destino desta confissão passou por várias etapas, da condenação à morte à tolerância e, por fim, à glamorização. Hoje, ser-se católico no Reino Unido é chique. Quando, em 1922, G. K. Chesterton aderiu à Igreja Católica (muitos anos depois de ter escrito este livro) já não se decapitavam os crentes no poder papal, mas não existia ainda a vaga de conversões recentes, de que a mais famosa é a de Tony Blair.

Esqueçam os seus livros mais populares, Father Brown e The Napoleon of Notting Hill, e concentrem-se na Ortodoxia, a sua biografia intelectual (Lisboa, Alêtheia, 2008, tradução da versão original de 1908). É verdade que também escreveu uma obra intitulada Autobiography (Londres, Hamish Hamilton, 1936), mas não se lhe compara em qualidade. Nesta, que começa bem, G. K. Chesterton tentou falar da sua vida, mas nada lhe interessando menos do que o ego, não tarda em divagar.

Chesterton era um radical que odiava os privilégios dos ricos e o poder do Estado, sentimentos que nunca renegaria. O previsível teria sido optar, como o seu amigo Bernard Shaw, pelo socialismo, mas não foi isso que fez, encaminhando-se gradualmente para o cristianismo e, mais tarde, para o catolicismo. Como sucederia com Orwell, o que lhe importava era o concreto, não um qualquer esquema destinado a salvar a Humanidade. Como Orwell ainda, sentia-se mal entre os intelectuais do seu tempo e, como Orwell, valorizava a tradição. Dito isto, os seus caminhos divergiram. Porque, na vida de G. K. Chesterton, irrompeu o divino.

Eis como conta a sua conversão (pág. 119): «Até essa altura, tudo quanto tinha ouvido dizer acerca da teologia cristã me afastara dela. Aos doze anos, era pagão, aos dezasseis era completamente agnóstico; e não consigo conceber que uma pessoa passe pelos dezassete anos sem ter feito a si mesma pergunta tão simples. Mantinha, é certo, uma nebulosa reverência por uma divindade cósmica, a par de um enorme interesse histórico pelo fundador do cristianismo. Mas não tinha dúvida nenhuma em O considerar um homem – embora talvez achasse que, mesmo assim, Ele tinha algumas vantagens relativamente a alguns pensadores modernos que O criticavam.» Reparem no que vem a seguir: «Li a literatura científica e céptica do meu tempo, ou pelo menos toda a literatura que consegui encontrar em inglês (...). Não li uma linha que fosse de apologética cristã; actualmente, leio o mínimo que posso. Foram Huxley, Herbert Spencer e Bradlaugh que me fizeram regressar à teologia ortodoxa, por me terem semeado no espírito as primeiras dúvidas terríveis que eu tive acerca da dúvida.» Em resumo, a sua conversão foi a forma como ele reagiu à arrogância, limitação e estupidez dos positivistas do seu tempo. Nascido em 1874, foi sempre um inconformista.

Em resposta aos cínicos que faziam troça do seu idealismo, diz (pág. 61-62): «O que de facto aconteceu foi exactamente o oposto do que eles tinham previsto. Afirmavam eles que eu havia de largar os meus ideais e de começar pragmaticamente a acreditar no funcionamento da política. Ora, a verdade é que eu não abandonei minimamente os meus ideais; a verdade é que a fé que deposito nas questões fundamentais permanece intacta. Aquilo que abandonei foi a fé infantil na pragmática política. (...) Continuo a acreditar no liberalismo, tanto como sempre acreditei, mais do que sempre acreditei. Embora seja certo que o período de dourada inocência em que acreditei nos liberais já passou.» Algumas páginas depois, argumentava a favor da tradição (pág. 63): «Mas há uma coisa que, desde a minha juventude, nunca consegui compreender: onde foram as pessoas buscar a ideia de que a democracia se opõe, seja de que maneira for, à tradição? Pois é óbvio que a tradição mais não é do que um prolongamento da democracia no tempo.»

Profetas da desgraça

Muitos apologistas cristãos são gente melancólica. Não é esse o caso de Chesterton, um optimista feito a pulso. Note-se como olha a realidade (pág. 89): «Porque o universo é uma jóia e, embora seja uma metáfora comum afirmar que as jóias são incomparáveis e preciosas, no caso destas jóias isso é literalmente verdade. Este cosmos é efectivamente sem par e sem preço, porque não pode haver mais nenhum como ele.» Odiou sempre os profetas da desgraça (pág. 100): «Bem sei que este [o pessimismo] é o sentimento predominante na época em que vivemos e parece-me que este sentimento gela a nossa época. Tendo em consideração os titânicos objectivos de fé e de revolução que nos movem, aquilo de que nós precisamos não é da fria aceitação do mundo, que afinal mais não é do que uma enorme cedência; precisamos é de encontrar maneira de o amar de todo o coração e de o detestar de todo o coração.» Para quem não o tivesse compreendido, explicava: «Não queremos que a alegria e a dor se neutralizem mutuamente, produzindo um contentamento enfadado; queremos sentir um prazer mais acentuado, mas também uma dor mais acentuada.»

Em jovem, Chesterton sofrera uma depressão, revelando como a superara: «E, a partir do momento em que se deu essa inversão [do pessimismo para o optimismo], eu tive aquela sensação de libertação abrupta que se tem quando um osso deslocado é novamente posto na respectiva cavidade natural. (...) Mas o optimismo do meu tempo era, todo ele, falso e desencorajador, porque se esforçava por demonstrar que nós nos adaptamos a este mundo. Ora, o optimismo cristão assenta no facto de que nós não nos adaptamos a este mundo.» Poucos falavam assim.

Este livro é uma tentativa para nos convencer que o credo racionalista é deficiente (pág. 195): «O cristianismo é a única religião do mundo que achou que a omnipotência tornava Deus incompleto. O cristianismo é a única religião que achou que Deus, para ser totalmente divino, tinha de ser um rebelde, para além de ser um rei.» Para ele, Cristo é subversivo, não um aliado da Ordem. Mais adiante (pág. 201) dissertará sobre as vantagens do cristianismo, a que chama ortodoxia: «Se queremos derrubar o opressor próspero, não é com a ajuda da nova doutrina da perfectibilidade humana que conseguiremos fazê-lo; mas seremos capazes de o fazer com o auxílio da velha doutrina do pecado original. Se queremos extirpar crueldades inerentes ou animar populações decaídas, não é com o auxílio da teoria científica segundo a qual a matéria precede o espírito que conseguiremos fazê-lo; mas seremos capazes de o fazer com o auxílio da teoria sobrenatural segundo a qual o espírito precede a matéria.»

G. K. Cherteston insiste, o que é curioso, no facto de ter aderido ao cristianismo não devido a um chamamento superior, mas através de métodos racionais (pág. 213): «Discuti em pormenor estes casos típicos de dúvida, a fim de transmitir a tese principal: que é por motivos racionais, embora não seja por razões simples, que adiro ao cristianismo. Consistem esses motivos numa acumulação de factos diversos, que é também aquilo que justifica a atitude do agnóstico comum. Acontece, porém, que o agnóstico percebeu tudo mal.» Vem, depois, a secção mais polémica: «Ele [o agnóstico] é descrente por uma série de razões – todas elas falsas. Ele duvida porque a Idade Média foi uma idade bárbara, quando a verdade é que não foi; porque o darwinismo está provado, quando a verdade é que não está; porque não há milagres, quando a verdade é que há; porque os monges são preguiçosos, quando a verdade é que eram diligentes; porque as freiras são infelizes, quando a verdade é que são particularmente alegres; porque a arte cristã era triste e apagada, quando a verdade é que era feita de cores berrantes e recoberta a ouro; porque a ciência moderna está a afastar-se do sobrenatural, quando a verdade é que não está, está a aproximar-se do sobrenatural à velocidade de um comboio rápido.» Muito do que afirma é um disparate, mas isso não me impede de gostar de o ler.

O mundo seria mais triste?

Quase no final, G. K. Cherteston tenta responder à pergunta que muitos fazem, no sentido de saber se não podemos ficar com o que de bom existe na doutrina cristã, deitando borda fora os dogmas. Depois de se ter declarado, mais uma vez, um racionalista, aborda a tese de que, com a religião, o mundo teria ficado mais triste, negando-a: «Os países europeus que ainda se encontram sob a influência dos sacerdotes são exactamente aqueles países onde ainda se canta, se dança, se envergam roupas coloridas e se praticam as artes ao ar livre. A doutrina e a disciplina católicas poderão ser muros; mas são muros de um parque de diversões.»

Dou de barato que os países em que o calvinismo foi dominante são mais sombrios do que os que optaram pelo catolicismo, mas é preciso não adoçar o que acontecia nos países latinos. Basta pensar em Portugal. Exceptuando W. Beckford, que, no século XVIII, apreciou uma missa a que assistiu na capela das Necessidades, sobretudo pelo seu luxo, raramente um estrangeiro louvou o que viu. A maioria era protestante, mas isto não invalida todas as observações. Escolho um extracto, ao acaso, retirado do livro de W. M. Kinsey, um clérigo que visitou Portugal em 1828: «Se as cerimónias da Igreja Católica não conduzissem a mais do que a um divertimento inocente dos seus aderentes, tudo estaria bem; mas essa faceta é, infelizmente, aquilo que podemos considerar a poesia do sistema. A triste realidade encontra-se na tirania dos confessionários, nas arrogantes extorsões e nas exigências anticristãs do poder papal.» Foi isto que G. K. Chesterton não quis reconhecer.

Na realidade não conhecia, por dentro, os países onde a Igreja Católica era dominante. Lembrando a sua Irlanda natal, Bernard Shaw avisou-o do perigo de continuar a fazer extrapolações a partir do que se passava em Inglaterra, mas aquele não o quis ouvir. Não sei o que teria escrito caso tivesse visitado Portugal, mas sei o que eu vi e vivi. A tal ponto era aqui a Igreja Católica dominante que, até aos meus 15 anos, pensava ser a única em todo o planeta. Na escola, na família, nas ruas, jamais vislumbrei alguém que professasse outra religião. Estou consciente de que o meu caso – tendo ingressado num colégio de freiras aos três anos só dele sairia aos dezassete – não é generalizável, mas sei que muita gente nascida, como eu, na década de 1940, terá passado por uma experiência semelhante. Na redoma em que o cardeal Cerejeira, o arcebispo de Mitilene e a minha mãe me enclausuraram não entravam correntes de ar.

Só em 1962, quando vivi em Londres durante alguns meses, descobri que existiam protestantes, judeus e muçulmanos. Poderia ter aproveitado para aderir ao anglicanismo – isso, sim, um gesto original –, mas, uma vez que estava em rota de colisão com Deus, o melhor, concluí, era deixar de pensar n'Ele.

Quando regressei à pátria, continuei a ler os livros que havia lá por casa. À mistura com obras que sabia interditas, como as de André Gide, Óscar Wilde e Bertrand Russell, compradas com a minha «semanada», lia o que estava nas estantes da sala. Apesar de católica, a minha mãe era inteligente, não se contentando em dirigir a lida da casa. Em grande medida, a minha iniciação literária foi feita à base dos escritores que ela admirava, A. J. Cronin, François Mauriac e G. K. Chesterton. Do primeiro, pouco me ficou, além de um punhado de mineiros; do segundo, umas velhas provincianas; G.K. Chesterton saiu vitorioso. Reli a sua Ortodoxia com prazer. Estou certa que a outros, católicos ou ateus, acontecerá o mesmo. Não deixe que o livro se perca entre as capas que efemeramente ornamentam as estantes das nossas livrarias.



Nota: Maria Filomena Mónica publicou, na Alêtheia Editores, os livros Bilhete de Identidade (Memórias 1943-1976), Cesário Verde, um génio ignorado, e Passaporte (Viagens 1994-2008).

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Pedro Picoito, sobre o «Portugal» de Vasco Pulido Valente

[...] D. João VI, os sucessivos liberais, Costa Cabral, a galeria dos republicanos, Paiva Couceiro, Salazar, Marcello Caetano, Cunhal, ninguém escapa à pena do cronista. Talvez VPV seja injusto aqui e ali, como costuma ser quem não tem medo de adjectivar os homens, mas dá-nos uma visão profundamente original do passado que eles viveram. Por exemplo, é injusto com a Igreja e o suposto aproveitamento político das aparições de Fátima, momento-chave da resistência católica à repressão da "República velha". Mas não se pode pedir a um incréu para ver nas idas e vindas da Mãe de Deus a uma charneca da Serra de Aire em 1917 algo mais do que um genial golpe de propaganda.

Longe de vulgatas escolares e vassalagens académicas (o doutoramento em Oxford e a prateleira dourada do ICS ajudam), poucos historiadores portugueses escrevem hoje como VPV. Por isso poucos são tão lidos como ele. A história é uma das belas artes. Um romance verdadeiro, na fórmula célebre e polémica de Paul Veyne. Aqueles que procuraram dar-lhe a respeitabilidade do positivismo retiraram-lhe a dignidade muito maior de ser lida. Entre nós, VPV foi um dos primeiros a fugir de tal erro, juntamente com outros historiadores não por acaso associados à direita (whatever that means) e à influência anglófona: Rui Ramos, Fátima Bonifácio, Filomena Mónica

Talvez este livro, com a sua erudição invisível, a ausência de notas que a autoridade do especialista dispensa, a vontade de chegar ao grande público sem cair na falta de rigor, seja a melhor introdução ao nosso passado próximo. O tal país que somos, parece.


Pedro Picoito, O Cachimbo de Magritte, 7 de Setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Os 10 grandes livros sobre Lenine

Uma lista de dez grandes livros sobre Vladimir Ilitch Lenine, elaborada por Helen Rappaport para o jornal Guardian.

Via Senhor Palomar


Tanto Lenine: Uma Biografia, de Dmitri Volkogonov (Lisboa, Edições 70, 2008), como Lenine, de Robert Service (Europa-América, 2004), foram recentemente publicados em Portugal, mas também a «fragmentária e inacabada» obra de Trotsky terá sido traduzida por Elisa Teixeira Pinto, e publicada em 1976 em Lisboa, segundo o catálogo da Biblioteca Nacional.

Fosse a lista do Guardian sobre o (considerado) mais infame Estaline, provavelmente incluiria a obra de Simon Sebag Montefiore, Estaline: A Corte do Czar Vermelho (Alêtheia, 2006), ou, do mesmo autor, O Jovem Estaline (Alêtheia, 2008).

Diga-se que a Alêtheia Editores irá publicar, ainda este ano, a obra Ekaterinburg: Os últimos dias dos Romanovs, da autoria da historiadora Helen Rappaport.

[Texto corrigido.]

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Francisco José Viegas, sobre «Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola»

«É um dos textos mais importantes sobre a sorte dos portugueses presos ou “desaparecidos” em Angola: trata-se de Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola, da jornalista Leonor Figueiredo (Alêtheia). Chocante. Para não esquecer.»

Francisco José Viegas, Correio da Manhã, 27 de Agosto de 2009

«Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola» – tops e 4ª edição

O livro Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola, de Leonor Figueiredo, cuja 4ª edição chega esta semana às livrarias, encontra-se neste momento no 4º lugar do Top Bertrand e no 7º lugar do Top Fnac, sendo o único livro de não-ficção entre os mais vendidos em Portugal.

Recorde-se que outros livros da Alêtheia Editores passaram este ano pelas listas de mais vendidos nas principais redes livreiras do país: Passaporte, Viagens 1994-2008, de Maria Filomena Mónica, e Portugal: Ensaios de História e de Política, de Vasco Pulido Valente.