«Recordo um Carlos Veiga humilde e sensato, inteligente, lido, atento, observador, não muito extrovertido, que me impressionou aos 17 anos; magnífico aluno, com boas notas em todas as cadeiras, muito seguro, muito credível, leal, solidário, fazia parte de grupos desportivos, tertúlias, amigo do seu amigo; estudámos juntos algumas vezes, muito organizado, realista.»
Lisboa, 4 de Novembro – O político-estrela português não poupou elogios quer ao biografado quer ao autor da obra. Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) fez uma abordagem de Carlos Veiga, O Rosto da Mudança em Cabo Verde, de Nuno Manalvo, publicado pela editora Alêtheia, para as várias personalidades da política portuguesa e alguns cabo-verdianos, presentes no Grémio Literário de Lisboa, na noite desta segunda-feira.
«Trata-se de uma biografia política e não pessoal», disse, «apesar de o autor não se esquecer do homem por detrás dela.» A biografia faz uma viagem pelos antecedentes históricos dos acontecimentos no país, para se compreender a descolonização e como ela como ocorreu em Cabo Verde.
O professor de Direito português referiu, longamente e com visível entusiasmo, os êxitos políticos conseguidos nos anos noventa pelo Movimento para a Democracia, liderado por Carlos Veiga, as reformas levadas a cabo graças à maioria conseguida nas urnas, nas primeiras eleições livres no país, em 1991, e que permitiria uma profunda revisão constitucional, desenvolvimento social e económico e a criação de estruturas políticas básicas, como o poder local democrático.
«A democracia em Cabo Verde está intimamente ligada a este homem, é obra de muitos cidadãos, mas tem um rosto», salientou MRS, atribuindo a Carlos Veiga o mérito de ter «aberto Cabo Verde ao mundo económica e diplomaticamente». Referindo-se ao livro de Nuno Manalvo: «Trata-se de um livro informado, por quem se mexe bem em matéria de ciência política»; um livro transversal, e na sua opinião escrito para poder «ser lido por especialistas e cidadãos comuns, por cabo-verdianos e também portugueses».
Com a boa disposição que o caracteriza, MRS recordou o tempo em que ambos foram colegas dos bancos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no curso de 1966/1971. Curso esse, aliás, onde estavam colegas como Miguel Beleza, Jorge Braga de Macedo, Leonor Beleza, Conceição Nunes, personalidades da vida política portuguesa, nos anos noventa.
«Recordo um Carlos Veiga humilde e sensato, inteligente, lido, atento, observador, não muito extrovertido, que me impressionou aos 17 anos; magnífico aluno, com boas notas em todas as cadeiras, muito seguro, muito credível, leal, solidário, fazia parte de grupos desportivos, tertúlias, amigo do seu amigo; estudámos juntos algumas vezes, muito organizado, realista.»
Para o autor, Nuno Manalvo, o livro tenta retratar fielmente aquilo que foi até agora a vida política de Carlos Veiga, ideia surgida depois de uma conversa à mesa de um restaurante, em Washington.
Carlos Veiga, o biografado, confessou ter ponderado os riscos da publicação de uma biografia política, «numa sociedade com algum grau de crispação política». No entanto, o político decidiu-se pela sua publicação, como esclareceu, «tendo em conta o que de mais importante poderia advir dele, o efeito positivo que é dar à estampa uma parte importante da história recente do país – as mudanças profundas e a transição política levada a cabo pelo MpD, de um Estado de partido único para um Estado de direito democrático».
A mudança do paradigma económico num clima de estabilidade, e de festa, na opinião do estadista «merece ser mais bem conhecido, para crédito de Cabo Verde e do povo cabo-verdiano».
Liberal Online, 4 de Novembro de 2009
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