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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

«Fontes Pereira de Melo», de Maria Filomena Mónica

Nas livrarias a 6 de Novembro


Em 1850, o estado das estradas portuguesas não podia ser pior. A única via decente era a que ligava a capital a Coimbra. De Lisboa, era mais fácil chegar-se a Southampton do que a Bragança. Fontes Pereira de Melo acreditava que a circulação – das coisas, dos homens, das ideias – era positiva. Foram os governos a que presidiu, ou em que teve assento, que, entre 1856 e 1886, planearam e construíram 82,5% dos 2153 quilómetros de vias férreas existentes.

O louvor à modernidade é bom para a retórica, mas os homens sentem-se melhor vivendo e produzindo como os pais e os avós. Por isso, não se admirou que contra o projecto ferroviário se tivessem levantado os almocreves, temerosos das locomotivas, os senhores rurais, que receavam pedidos de aumentos salariais, os camponeses, irritados com os forasteiros, os credores do Estado, indignados com a política financeira, os párocos, que olhavam os funcionários dos caminhos de ferro como uns hereges, e os políticos da oposição, que proclamavam que um país pobre não pode esbanjar dinheiro. A 7 de Maio de 1853, diante da augusta presença de D. Maria II e de D. Fernando, Fontes inaugurava as obras. Se conseguisse iniciar a linha entre Lisboa e o Carregado, pensou, o resto viria por acréscimo. O resto era nada mais, nada menos do que a união do país à Europa. A ele, sobretudo a ele, o devemos.

Maria Filomena Mónica


Fontes Pereira de Melo: Uma Biografia
Edição revista e aumentada

Alêtheia Editores, Novembro de 2009
ISBN: 978-989-622-186-7
Formato: 13*22 cm
Nº de páginas: 264 + 16 il.
Preço: 16,00 €

«Cartas da Península, 1808-1812», de Sir William Warre

Nas livrarias a 6 de Novembro


William Warre nasceu no Porto em 1784, e era neto de outro William Warre, que chegou a Portugal em 1706. O seu pai, trisavô do autor das notas deste livro, era James Warre, um comerciante de vinho do Porto na mais antiga companhia britânica do ramo, fundada em 1670.

Depois de ter crescido no Porto, William foi estudar para Inglaterra, regressando para trabalhar na empresa da família, a Warre & Co. No entanto, a sua carreira viria a ser breve, muito por causa da sua jovem natureza rebelde. O episódio que precipitou o seu abandono deu-se quando colou o cabelo de um sócio português à secretária, enquanto este dormia a sesta – o que obviamente não agradou nem à família nem aos seus parceiros de negócio. William saiu assim do país, o que não terá sido a seu descontento. Ansioso por seguir a carreira militar, entrou para o Exército Britânico em 1803, aos 19 anos de idade.

Cinco anos depois, em 1808, viria no entanto a regressar a Portugal, com o Corpo Expedicionário Britânico, para repelir a primeira das três invasões dos exércitos de Napoleão. Quando se alistou, mal poderia imaginar que depressa estaria envolvido numa luta desesperada para libertar o muito amado país onde nasceu, ao qual tinha fortes ligações familiares. Durante grande parte da guerra, esteve adstrito à secção portuguesa do Exército Anglo-Português, com os seus conhecimentos da língua e dos costumes locais a revelarem-se fundamentais na reorganização das forças portuguesas.

Durante aquele período turbulento, o capitão Warre participou em quase todas as grandes batalhas em Portugal e Espanha, desempenhando um papel determinante nas batalhas da Roliça, do Vimeiro ou da libertação do Porto (e também da Corunha, de Badajoz, de Salamanca). Este livro apresenta as suas cartas para a família, relatando os sucessos e os insucessos dos combates, e os interlúdios de marcha e planeamento, transmitindo-nos uma visão inigualável das campanhas do início do século XIX, e de como era o Portugal profundo da altura.


Cartas da Península, 1808-1812
Texto de Sir William Warre
Edição de Edmond Warre (1909)
Notas de William Acheson Warre (1999)

Alêtheia Editores, Novembro de 2009
Tradução: Carlos Marques
ISBN: 978-989-622-206-2
Formato: 130*220 cm
Nº de páginas: 408 + 8 il.
Preço: 18,00 €

«A democracia em Cabo Verde está intimamente ligada a este homem»

Marcelo Rebelo de Sousa falou de Carlos Veiga em Lisboa


«Recordo um Carlos Veiga humilde e sensato, inteligente, lido, atento, observador, não muito extrovertido, que me impressionou aos 17 anos; magnífico aluno, com boas notas em todas as cadeiras, muito seguro, muito credível, leal, solidário, fazia parte de grupos desportivos, tertúlias, amigo do seu amigo; estudámos juntos algumas vezes, muito organizado, realista.»

Lisboa, 4 de Novembro – O político-estrela português não poupou elogios quer ao biografado quer ao autor da obra. Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) fez uma abordagem de Carlos Veiga, O Rosto da Mudança em Cabo Verde, de Nuno Manalvo, publicado pela editora Alêtheia, para as várias personalidades da política portuguesa e alguns cabo-verdianos, presentes no Grémio Literário de Lisboa, na noite desta segunda-feira.

«Trata-se de uma biografia política e não pessoal», disse, «apesar de o autor não se esquecer do homem por detrás dela.» A biografia faz uma viagem pelos antecedentes históricos dos acontecimentos no país, para se compreender a descolonização e como ela como ocorreu em Cabo Verde.

O professor de Direito português referiu, longamente e com visível entusiasmo, os êxitos políticos conseguidos nos anos noventa pelo Movimento para a Democracia, liderado por Carlos Veiga, as reformas levadas a cabo graças à maioria conseguida nas urnas, nas primeiras eleições livres no país, em 1991, e que permitiria uma profunda revisão constitucional, desenvolvimento social e económico e a criação de estruturas políticas básicas, como o poder local democrático.

«A democracia em Cabo Verde está intimamente ligada a este homem, é obra de muitos cidadãos, mas tem um rosto», salientou MRS, atribuindo a Carlos Veiga o mérito de ter «aberto Cabo Verde ao mundo económica e diplomaticamente». Referindo-se ao livro de Nuno Manalvo: «Trata-se de um livro informado, por quem se mexe bem em matéria de ciência política»; um livro transversal, e na sua opinião escrito para poder «ser lido por especialistas e cidadãos comuns, por cabo-verdianos e também portugueses».

Com a boa disposição que o caracteriza, MRS recordou o tempo em que ambos foram colegas dos bancos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no curso de 1966/1971. Curso esse, aliás, onde estavam colegas como Miguel Beleza, Jorge Braga de Macedo, Leonor Beleza, Conceição Nunes, personalidades da vida política portuguesa, nos anos noventa.

«Recordo um Carlos Veiga humilde e sensato, inteligente, lido, atento, observador, não muito extrovertido, que me impressionou aos 17 anos; magnífico aluno, com boas notas em todas as cadeiras, muito seguro, muito credível, leal, solidário, fazia parte de grupos desportivos, tertúlias, amigo do seu amigo; estudámos juntos algumas vezes, muito organizado, realista.»

Para o autor, Nuno Manalvo, o livro tenta retratar fielmente aquilo que foi até agora a vida política de Carlos Veiga, ideia surgida depois de uma conversa à mesa de um restaurante, em Washington.

Carlos Veiga, o biografado, confessou ter ponderado os riscos da publicação de uma biografia política, «numa sociedade com algum grau de crispação política». No entanto, o político decidiu-se pela sua publicação, como esclareceu, «tendo em conta o que de mais importante poderia advir dele, o efeito positivo que é dar à estampa uma parte importante da história recente do país – as mudanças profundas e a transição política levada a cabo pelo MpD, de um Estado de partido único para um Estado de direito democrático».

A mudança do paradigma económico num clima de estabilidade, e de festa, na opinião do estadista «merece ser mais bem conhecido, para crédito de Cabo Verde e do povo cabo-verdiano».

Liberal Online, 4 de Novembro de 2009

«Cartas da Península» reeditadas 100 anos depois


O Portugal que resistiu às invasões francesas é revisitado amanhã, com o lançamento das cartas de William Warre, uma espécie de Lawrence da Arábia luso-britânico que participou em algumas das batalhas mais surpreendentes de todas as guerras napoleónicas

Intitulado Cartas da Península - 1808/1812, o livro reúne os apontamentos que o jovem oficial britânico foi partilhando com a família e que resultam num testemunho directo de um dos períodos mais intensos da história de Portugal do século XIX.

Nascido no Porto, em 1784, no seio de uma família britânica ligada ao comércio do vinho português desde o início daquele século, Warre acabou por ter, apesar da sua pouca idade (ingressou no Exército britânico aos 19 anos), um papel vital na resistência às invasões napoleónicas, por dominar a língua portuguesa e pelo seu conhecimento das mentalidades e do território do país.

Este facto deu-lhe a possibilidade de acompanhar por dentro, na primeira linha, algumas das batalhas que fazem parte do imaginário nacional, de outras que a maioria já esqueceu e mesmo de ajudar na resistência civil.

Daí que as suas cartas, embora pessoais, estejam repletas de referências militares e históricas: «Junot dispõe no total de cerca de 14.000 homens, mas não poderá oferecer longa resistência, visto estar quase completamente cercado por nós, com 13.000 a 15.000 homens no total, pelo Norte, e por um corpo de cerca de 6000 portugueses; e da margem norte do Tejo, vindo de Badajoz, por um corpo de 10.000 homens do Exército espanhol do general Castanho, constituído, pelo que ouvi dizer, dos melhores e mais bravos indivíduos que há, tal como o próprio general e, na realidade, todos os espanhóis em armas», escreveu a 8 de Agosto de 1808.

Os dados objectivos são intervalados por manifestações de profunda carga emocional: «Ser-me-ia impossível expressar os meus sentimentos ao ver o lugar onde nasci, e onde passei os dias mais felizes da minha vida, ou o tormento de não poder comunicar», desabafa, ao largo da costa portuguesa, impedido ainda regressar a solo nacional após o treino militar no Reino Unido.

Presente na libertação do Porto

Desembarcado em Portugal, Warre esteve presente em quase todas as batalhas mais importantes ocorridas em Portugal e em Espanha durante este período tumultuoso. Lutou na Batalha da Roliça (o primeiro combate da Guerra Peninsular) e na do Vimeiro, que conduziram directamente à libertação de Lisboa, e esteve com o general Sir John Moore na sua famosa e terrível retirada na Corunha, ainda hoje lendária na história britânica.

Esta catastrófica marcha de Inverno através de montanhas cobertas de neve culminou na batalha desesperada nos cumes das colinas da Corunha e na morte prematura do general Moore. Warre escreveu numa carta para casa relatando a honra de estar na retaguarda e de ser o último oficial a embarcar a 16 de Janeiro, no momento em que os franceses tomavam a cidade.

O capitão Warre esteve presente na libertação da sua cidade natal, o Porto; no cerco e tomada de Ciudad Rodrigo; e testemunhou a brutalidade do segundo cerco e saque de Badajoz, em Abril de 1812. Embora tivesse apenas 27 anos na altura, foi o oficial principal na intimação do Forte de São Cristóvão e fez prisioneiros os generais Philippon e Weyland – os comandantes franceses de Badajoz –, que lhe entregaram as suas espadas pessoalmente.

O jovem luso-britânico esteve na épica e decisiva batalha de Salamanca, em Julho de 1812, que muitos estrategas militares consideram ser aquela em que Wellington demonstrou as suas grandes qualidades estratégicas, ainda mais do que em Waterloo.

Primeira edição há 100 anos

Este testemunho das guerras napoleónicas e da proximidade das relações entre os dois aliados históricos que eram Portugal e a Grã-Bretanha foi editado pela primeira vez em 1909, por iniciativa de um sobrinho, e mereceram uma segunda edição em 1999, pela mão de um sobrinho-bisneto.

Cem anos após a sua primeira edição, as Cartas da Península - 1808/1812 ressuscitam pela mão da Alêtheia Editores e serão apresentadas amanhã numa sessão que contará com a presença do director adjunto do jornal PÚBLICO Manuel Carvalho e de William Acheson Warre, descendente directo do autor. Simbolicamente o lançamento do livro terá lugar na Feitoria Inglesa.

PÚBLICO/LUSA, 9 de Novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

IMPAC Dublin Literary Award



Sachenka, de Simon Sebag Montefiore (publicado pela Alêtheia em Agosto), é um dos 156 candidatos ao prémio IMPAC Dublin, ao lado dos portugueses José Saramago (As Intermitências da Morte/Death With Interruptions), José Eduardo Agualusa (As Mulheres do Meu Pai/My Father's Wives) e José Rodrigues dos Santos (O Codex 632/Codex 632).

O IMPAC Dublin é o maior prémio literário anglófono, no valor de 100.000 euros, e os candidatos são escolhidos por bibliotecários de todo o mundo.

Notícia do Guardian